sábado, 28 de julho de 2012

Enfim, wwoofer!

Estou começando minha experiência como wwoofer. Atravessei a Itália para chegar no Sarruni, uma fazenda orgânica em Salento, mais especificamente Capo di Leuca, como é conhecida toda a região de Puglia mais ao sul no salto da bota. É quase o prego do salto de tão sul que é. Numa zona belíssima, puro mediterrâneo, eles produzem azeite de oliva orgânico e tudo mais que uma fazenda pode dar, principalmente para o consumo da família e para receber os hóspedes que vêm no verão. É um agriturismo, uma hospedaria rural.

Só com esta viagem me dei conta da posição central da Itália unindo por mar o ocidente e o oriente. Toda gente já passou nessa região, árabes, gregos, espanhóis. As palavras do dialeto local têm influência de várias línguas, inclusive várias palavras iguais ao português, conclusão falo com a Nonna em dialeto! Andei por cidades pequenas que têm placas em grego, outras com construções com ares africanos, comi pratos de influência árabe, tem de tudo. Esta mistureba deu uma característica única ao povo desse lugar, alegre, exagerado, brincalhão. É a Itália que fala alto, quase aos berros, que dança, ri, briga e gesticula para tudo. Não que eu não tenha visto isso em outras partes, mas aqui parece que o sol forte deu um tempero especial e acentuado.

Tem oliveira para todo lado que você olha, a perder de vista. Mas poucas orgânicas, como estas da fazenda. É um mundo de conhecimento próprio, das variedades às formas de extração. Já aprendi que o melhor processo de extração do óleo é o tradicional, claro, como faziam os antigos produtores. Os processos mais modernos, industrializados, usam olivas colhidas do pé e do chão, alterando o sabor do óleo, mesmo que sempre prensado a frio. O ideal é a extração no frantóio tradicional (parecido com o nosso moinho de pedra...), que produz o azeite mais puro. E que centrifugar gera um óleo mais claro, mas homogeiniza pequenas partículas que alteram o sabor (oxida um pouco o óleo). Melhor é o óleo decantado, duas ou três vezes, calmamente, sem pressa, um pouco turvo, mas puro. Infelizmente não estarei aqui na época da colheita e feitura do azeite, curto a fruta pequenina no pé, ainda verde. Minha “casa” é um antigo trailler na sombra de uma oliveira.

A família é a típica italiana, a nonna que prepara a pasta diariamente, pai, mãe, filhos e nora. Não sei se é sorte de principiante mas sou muito bem acolhida e integrada à família. Eles dizem que são os brasileiros que são simpáticos...

Sou uma wwoofer curiosa, pergunto tudo com meu parco italiano. E como tem história essa região. A culinária é incrível, tenho a sensação que poderia passar o resto da minha vida aqui e nem assim conheceria todas as comidas tradicionais. A fazenda oferece aos hóspedes a típica cena salentina, um jantar com pratos locais do antepasto à sobremesa, passando pelo primeiro prato, segundo prato, contorno. É um desfile de comida. Toda noite, tudo maravilhoso.

Tão bom quanto comer é ajudar na cozinha, uma das funções wwoof na fazenda. Adoro. Gosto de ver como eles cozinham, gosto de cozinhar, fico feliz de ver o prazer das pessoas à mesa, saboreando aquele pedaço do paraíso que ajudei a preparar.

O ritmo do trabalho acompanha o sol. Começamos cedo, as 6 da manhã, com os animais: dando o trato, recolhendo os ovos, tirando o leite. Depois uma geral na cozinha e em outros serviços urgentes. Por volta de 10, 11 horas pausa para os wwoofers, que só voltam no fim da tarde, lá pelas 5, geralmente na cozinha, nos preparativos do jantar, preparando a mesa, ajudando a servir.

Traduzindo, tenho 6 a 7 horas livres no meio do dia... Tá certo que é quente pra caramba, mas o mar tá ali, azulzinho, me esperando, dá pra ver do terraço da casa...




terça-feira, 24 de julho de 2012

Frise di Grano





Eu não sabia, não tinha como adivinhar...

Como eu poderia imaginar que aquele pacote que parecia estar na casa desde o verão passado não era um pão velho, impressionantemente sem mofar, e sim uma delícia gastronômica tradicional?

Não tive dúvida, Tino, o cão, estava esfomeado. Na melhor das intenções mandei ver: pão velho pra matar a fome do cachorro!

Mattia, um amigo queridíssimo, depois me explicou com a maior calma do mundo, que não era um pão velho, mas um prato típico salentino. É assado em forno a lenha com lenha da poda das oliveiras... Fica guardado por meses, até anos se bobear. Na hora de comer você joga um pouco de água, aquece e come com um fio de azeite e molho de tomate fresco por cima...Putz.




segunda-feira, 23 de julho de 2012

Galinha Caipira



No jornal local todo dia tem uma ou duas páginas dedicadas à alimentação. Aqui é um prazer falar, discutir, pensar a alimentação. Olha essa notícia slow: recuperação de uma variedade de galinha caipira que foi substituída por outras mais produtivas e rápidas na engorda alguns anos atrás...


O mais legal é que pouco antes de viajar tivemos uma conversa parecida na fazenda (depois de uma greve fenomenal das galinhas poedeiras): buscar variedades mais rústicas, que botam menos, mas são mais adaptadas, mais caipiras, mais slow.



sábado, 21 de julho de 2012

Puglia!


Cheguei ao sul da Itália. Literalmente cruzei o país e agora estou no salto da bota, Puglia. Uma nova paisagem se descortinou à minha volta. Saí das montanhas da Toscana para uma grande planície no Salento, região da Puglia onde estou. Os campos de oliva são um espetáculo a parte, há árvores velhíssimas, com troncos todo retorcidos, cada uma faz um desenho próprio, como se dançassem, como se até o momento anterior estivessem se mexendo e só pararam porque agora são observadas. Se bobear elas falam. Por uma estrada estreita, cercada dos dois lados por oliveiras posso ver no horizonte muitos cataventos ampliando a visão como se andássemos em direção ao infinito. No som do carro a tarantella, a música oficial de Puglia. É um momento mágico.
Não sei explicar muito bem, mas é bem diferente do norte da Itália. Tem outro ar, outra história, outro sabor. As cidades são diferentes, muitas e pequeninhas, perdidas no meio dos olivais, de repente surgem como um mistério. Os tons mudaram, tudo mais claro, agora vão do branco ao amarelado, cor da pedra mais usada para construção por aqui.
Os alimentos são mais ou menos os mesmos, mas têm uma certa rusticidade que me agrada. Melancia menorzinha, tomates mais desiguais, muito doces e perfumados.Vinho e azeite de oliva! Vinho e azeite de oliva, vinho e azeite, com abundância.
A praia é belíssima, mas não impressiona uma brasileira...gente demais.
As festas populares sim, impressionam. Se chamam Sagra. Geralmente são relacionadas à algum tema gastronômico ;) Sagra da Cozinha Mediterrânea, da Pizza, do Polvo, do Grano Duro...tem para todos os gostos. São bem populares, baratas, poderiam ser mais rústicas, mas eu gosto, sempre tem uma barraquinha de produtores com algum alimento típico, eu me encanto fácil...
Por último a música. Perfeita. Ainda não posso diferenciar a tarantella da pizzica, mas as duas são ótimas.  É a música oficial das sagres. É alegre, o corpo rapidamente entra no ritmo, é gostosa de ouvir. Me lembra um pouco a música do nordeste do Brasil. As pessoas aqui dançam com gosto, prazer, bonito de ver. E de dançar, claro.
Não falo mais, deixo aqui imagens para ser construída uma Puglia no coração de quem lê, como está construída no meu.
Se quiser entrar mais no clima, música salentina: pizzica.




sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sorte minha...


A sorte tirada na barraca de verduras da Fierucola.

Chiunque può fare qualsiasi cosa. Se ero riuscita a farcela ad attraversare il deserto, beh allora chiunque poteva far qualsiasi cosa...
...il viaggio è stato facile. Non è stato più pericoloso di quanto lo sia attraversare una strada, andare al mare o mangiare noccioline.
Le due cose importanti che ho imparato sono state che puoi essere forte e coraggiosa solo se ti permetti di esserlo, e che la parte sicuramente più difficile di ogni avventura è compiere il primo passo, prendere la prima decisione.

Da “Orme. Una donna e quattro cammelli nel deserto australiano” di Robyn Davidson

Aguardo uma alma caridosa que me ajude a traduzir, pois não arrisco meu italiano tabajara.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Cabras, leite e queijo


Uma quinta feira na fazenda da família Rossini.


O dia começa com a ordenha das cabras, às 6:30h. ajudo Daniele, o namorado de Costanza. A ordenha é mecânica, fazemos todo o resto: buscar as cabras, ordená-las para a ordenha, colocar comida. Ajudamos com as mãos o leite a sair e terminamos com a ordenha manual. Não sou muito boa. Só fiz isso algumas vezes nas vacas da fazenda, de brincadeira. Mas hoje já estou melhor que dois dias atrás e consigo esvaziar pelo menos uma teta da Carlota, minha cabra preferida. Meus dedos doem do esforço novo. 7:30h deixo Daniele terminar o trabalho e me junto a Costanza. Hora de desenformar os queijos do dia anterior, passar sal, guardá-los. Aproveitamos e já viramos todos os queijos. Isto tem que ser feito todos os dias, seja queijo fresco ou curado. Garante uma maturação homogênea.
Chega o leite tirado e o preparamos para coalhar. Vai descansar por 24 horas com o coalho e o soro. O leite do dia anterior, agora coalhado é o próximo assunto: colocá-lo nas formas de queijo, com cuidado para que não saia pelos buraquinhos, para que não se desperdice a massa.
Serviço terminado hora de tomar o café da manhã, com a família e amigos que sempre aparecem.
Voltamos para os queijos, ou melhor para a limpeza de todo o processo. Aqui a palavra de ordem é biológico, biológico mesmo. Nada de produtos de limpeza químicos, só bicarbonato de sódio, um pouco, na última lavagem. Primeiro lavamos os utensílios na próprio soro do leite, depois na água fria e por último, se necessário, na água quente. Incrível como funciona. Tudo limpo hora de se dedicar aos queijos especiais. São pequenos rolinhos de queijo fresco passados em temperos especiais. Primeira coisa triturar os temperos que já acabaram: manjerona e tomilho. Com uma faca de dois cabos, em uma tábua de madeira, faço este trabalho com prazer. Costanza mede os queijos, os corta, prepara tudo para a segunda etapa: passar um tanto de queijo em cada tempero, separadamente. O cliente pode escolher se prefere com ciboulette, tomilho, manjerona. Todos deliciosos, claro. Depois os queijos com carvão. Este carvão comestível combina incrivelmente com o queijo de cabra. Segundo Angelo é uma combinação muito boa para o estômago. Para mim é muito boa para o paladar, é meu queijo preferido aqui. Fazemos este trabalho com cuidado para que toda a lateral do rolinho de queijo fique preta e a parte de cima e baixo não. Lindo!
Serviço terminado hora de colher alguma erva que tenha acabado seca. Colhemos e colocamos para secar na sombra, onde ela conserva o sabor e a cor.
Fim da manhã, o tempo voou.


Preparar o almoço é a próxima missão.
Depois do almoço descanso. O calor é muito, o corpo pede para ficar bem quietinho.
A tarde transcorre sem muito trabalho, ajudamos a encaminhar as cabras para o bosque, borrifamos um pouco de murfa nos queijos curados, lavo algum vasilhame que ficou para trás.
Dá tempo de um rápido passeio pelo bosque antes da nova ordenha das cabras. Adoro estar no meio do mato, esta floresta de árvores iguais é nova para mim, me encanta, o cheiro do pinus é bom, é fresco.
18:30h nova ordenha, estou melhor que de manhã e Daniele dá um leve sorriso ao constatar que consegui esvaziar as duas tetas de Carlota. Meus dedos doem mais, mas sorrio por dentro.
Costanza me chama. Os queijos da manhã precisam ser virados em outra forma, para que a pressão dos dois lados seja igual. Lá vamos nós. Aproveitamos e já giramos os queijos desenformados na manhã, sal do lado que estava para baixo, lavamos o que foi sujo e fim, acabou o serviço do dia.
20:00h hora do jantar. Mesa posta na varanda da casa. Na mesa pão toscano, a berinjela do almoço, salada de alface, tomate e uma degustação de todos os queijos de cabra...


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Costanza e a melanzana

Costanza é uma ragazza bravíssima! Belíssima com seus cabelos ruivos, divertida, é minha professora de queijo de cabra. Mora com sua família no campo. Uma casa que tem construções de 1400, com aquelas paredes largas e portas por onde se poderia entrar montado em um cavalo. Seu pai me contou que era uma antiga torre, de onde podia se ver toda a região. Hoje a família fez novas construções para tornar o lugar uma casa!
Estou no casentino, a maior área florestal da Itália. Floresta e montanha garantem uma vista espetacular da casa. Garantem muito pasto para as cabras também.


Angelo (o pai) chegou com melanzane (berinjelas) da feira de Popi e Costanza além de produtora de queijos prepara as refeições da casa. Cozinhar todo dia a cansa, haja inspiração, diz ela. Mas, como boa italiana gosta de cozinhar e de comer bem. Fez estas simples berinjelas, talvez as mais simples que eu já tenha comido, parecerem um almoço de festa, um prato especial. Para acompanhar um arroz com lentilhas.


Mais fácil não existe:

Na panela grossa, tipo frigideira, colocou azeite, depois a berinjela picada e assim foi cozinhando. Sem usar uma colher (não que seja proibido), apenas salteando a berinjela. Seu movimento preciso com a frigideira faziam as berinjelas voarem e retornarem à panela ilesas. Depois adicionou o tomate picado. De tempero só sal. E azeite, claro. Cozinhou assim até ficarem macias...

Outro dia ela fez estas berinjelas grelhadas. Um pouco diferente das do Simone, ela as corta mais fininho e depois sobrepõe em camadas. Temperando cada camada com sal e uma mistura de azeite e alho picadinho. Buoníssimo!





segunda-feira, 16 de julho de 2012

WWOOF

World Wide Opportunities on Organic Farms (WWOOF) é um movimento iniciado no Reino Unido há 30 anos e que já tem adeptos no mundo inteiro. Tá tão famoso que já criou uma palavra nova: wwoofer, nome dado àqueles que viajam para trabalhar nas fazendas. Funciona mais ou menos assim: as fazendas orgânicas se cadastram oferecendo vagas de hospedagem para os wwoofers, as pessoas que se interessam em viajar para o campo, conhecer um pouco mais da agricultura e cultura de determinado local, também se inscrevem. O wwoofer paga 25 euros pela inscrição. Depois é só uma questão de acertos: da lista de fazendas você (que quer conhecer o campo) faz contato com aquela que te interessou mais, se eles tiverem vaga ou disponibilidade é só marcar a ida! Geralmente pedem uma estada de pelo menos 2 semanas, para dar tempo de conhecer o trabalho, a cultura local, ou seja, interagir!

É bom pra todo mundo, quem viaja o faz de forma econômica (você não paga hospedagem e alimentação), participa do dia a dia de uma fazenda orgânica, conhece pessoas do local, o que te dá a possibilidade de programas muito mais legais, novos amigos, etc. Quem recebe tem uma ajuda a mais no trabalho do campo, conhece novas pessoas e culturas (dependendo do número de wwoofers a roça pode ficar super cosmopolita).

Funciona para quem considera estar no campo um descanso, pois muitas vezes você vai cansar o corpo, pouco acostumado com esta lida. Mas nada melhor para uma boa noite de sono do que passar o dia colhendo albicocca!

Os wwoofer são normais aqui na Itália, a lista de fazendas é enorme. Diferente do Brasil onde ainda são poucas as oportunidades. Ao mesmo tempo que eu fazia minha inscrição aqui, meus pais receberam o primeiro wwoofer da fazenda luiziânia! Já fica o convite para quem se interessar...
Minha primeira experiência foi assim: ainda não wwoofer oficialmente mas trabalhando junto com o time da fazenda passei alguns dias felizes em San Gimignano. Lá a combinação dos wwoofers, com a família Pasolini, o Dado que trabalha com eles, cria uma equipe ótima, super alegre, trabalhadora, e sim, cosmopolita. Cada um com uma experiência e história diferente, todas as línguas possíveis sendo faladas (o importante era se comunicar), todo mundo junto no almoço, rindo, descobrindo o mundo do outro, suas semelhanças e diferenças. Fiz passeios ótimos com esta turma, lugares que eu não conheceria sozinha. Um pic nic em San Galgano, uma igreja super antiga, sem teto, inesquecível! Foi difícil ir embora, não posso negar. Mas continuo o caminho feliz pelos novos amigos.


O Lauro e a Annalúcia se conheceram quando ela foi wwoofer na fazenda da família dele, ano passado. Agora ela tá de volta, dá pra ver a cara de apaixonado dos dois, não?...Um casal lindo, que adorei conhecer e espero encontrar em outras andanças...

Deu pra sentir o gostinho de ser um wwoofer? Quer saber mais entra no wwoof.org

domingo, 15 de julho de 2012

Fierucola - Firenze

Participei este domingo da feira de produtores orgânicos de Firenze (Florença), a fierucola. Fui para conhecer e ajudar o Luciano (o dono das albicoccas...) na barraca da Oficinallia.
Feira começando e mais parece um encontro de amigos, cada van que chega seu motorista é saudado por todos. Mas não há tempo para muita conversa, as pessoas estão chegando e é preciso descarregar os produtos e montar a barraca. Cada uma diversa da outra, cada produto diverso do outro. As pessoas começam a chegar  e o movimento não para por toda a manhã. Entre turistas desavisados que se encantam com aquele universo fresco e gostoso da feira chegam também os consumidores velhos amigos, que fazem desta feira mensal sua compra de mercado.

A albicocca faz sucesso e não paramos de pesar, meio, um, dois quilos. Estão lindas e são irresistíveis. Se hà dúvida sobre a doçura, nós não temos dúvida em oferecer uma para degustação. Venda certa. E se contamos do suco feito esta semana...hum...grande chance de aumentar a feira.
Tento meu melhor buongiorno e a senhorinha me olha e diz para a amiga: stranieri. Não há dúvida que sou estrangeira, meu encanto com aquela feira (pareço uma japonesa querendo fotografar tudo) é de quem vê uma cena nova.

A feira dura por mais algumas horas, começamos as 8 da manhã e já são 1 da tarde. O almoço acontece o tempo todo, iogurte de cabra do produtor de Popi, pão e pizza integral da barraca dos jovens feirantes da cidade, suco de albicocca.

Encontrei um mineiro que trabalha com um primo do meu pai em Lavras...coincidências...
A barraca de verduras oferece verduras e mensagens. Você escolhe um papel do cesto e aquela é a sua mensagem do dia, o produtor diz que não falha, muitas pessoas não acreditam e depois ficam impressionadas como se encaixa.

Feira acabando e ainda há muita albicocca. Hora das trocas. Luciano sai pela feira e volta com uma caixa de tomate, seu amigo busca uma caixa de albicocca... pão... queijo de cabra... e quando vejo está o Luciano medindo seu pé na barraca das sandálias artesanais. A albicocca rendeu esta semana...
No final o tempo que os produtores precisam para colocar a conversa em dia, afinal vêem de todo o canto da Toscana: mesa posta embaixo de uma árvore da praça, cada um com um produto para contribuir e muita história para dividir.


O querido Luciano Pasolini arrumando a barraca da Oficinallia - sentirei saudade desta família maravilhosa que me recebeu com tanto carinho e alegria. E das albicocce.

Achei este vídeo no youtube e tá bem documentado a Fierucola!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Piatto del Giorno: legumes grelhados

Pode-se dizer que grelhar é das formas mais fáceis e saudáveis de preparar legumes. Todo o sabor tá ali, mantido. Mas não é comum pra nós no Brasil. Aqui é.

O preparo é super simples: picar os legumes em fatias. Não precisa ser finíssimo não. Fizemos numa grelha tipo de ferro, na chama do fogão. Espalhar uma camada de legumes na chapa e deixar lá até começar a tostar e fazer aquelas lindas listrinhas escuras. Agora do outro lado. Queimar um pouquinho as pontas faz parte e dá mais sabor. Vai levar um tempo para fazer isso com todos os legumes, mas dá pra ir fazendo outras coisas enquanto grelha...


O tempero: sal, azeite, pimenta calabresa, quem é de alho, alho bem batidinho cru ou tostado. Quem é de manjericão...

Duas formas de servir: quente - neste caso manter no forno os legumes já grelhados enquanto grelha mais, ou a temperatura ambiente, já esfriado pelo tempo. Como comemos estas abobrinhas, berinjelas e batatas deliciosas.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pic Nic?

Eu, uma holandesa e uma belga conversando.

Eu - Que bom, vamos fazer um pic nic hoje. Eu adoro, mas é tão raro no Brasil.
Holandesa - Por que? Não tem parque lá?
Eu - Tem... Mas geralmente não se pode pisar na grama.
Belga - Não pode? Por que?
Eu - (...)
Holandesa - É difícil manter a grama? É muito seco?
Eu - Hum... Não... O clima é bom, as gramas costumam ser bonitas. Talvez seja por isso...
Holandesa - Mas pra que serve a grama? Pra ver?
Eu - (...)
Belga - Mas tem praia, na praia vocês fazem pic nic?
Eu - (...)

É, Tom Jobim estava certo: o Brasil não é para principiantes. 
Fora isso o pic nic foi ótimo. Descobri uma nova combinação que babo só de pensar: figo com queijo. Um pedaço de queijo mais curado numa mão, um figo bem madurinho na outra. Um gole de vinho de vez em quando. 
Perfetto!

a turma do pic nic na abadia de san galgano, falta o fotografo, meu mestre de ioga intuitiva: kiko!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mercantia



"Apriamo coraggiosamente una breccia,
anche nel caos più profondo
di questi tempi travagliati,
e diventiamo noi le persone
che creano una nuova speranza!"
Daisaku Ikeda

Imagine a cena: uma cidade medieval, na Toscana. Aquelas cercadas por uma muralha (baixinha, neste caso), com ruelas estreitas e passagens que mais parecem uma entrada para uma gruta e no final dão num terraço gramado, com vista para o vale. As casas se emendam umas nas outras e depois nas pontes e depois nas ruas. Nuances de bege, marrom e cinza.

Imagine a festa: artistas de rua de toda a Itália, e mais um monte do mundo! Do Japão ao Brasil. Tudo ao mesmo tempo e muito! Circo, música, dança, exposições e toda variedade artística que se pode imaginar. Bandeiras, fantasias coloridas, papéis voando com  mensagens de bom augurio.

Agora imagine minha alegria de estar neste lugar...


terça-feira, 10 de julho de 2012

Albicocca - Toscana!


Quem acompanhou o roteiro inicial da viagem deve ter percebido que Paris, Veneza, Padua e Verona, não estavam no script. Va bene, fazem parte da improvisação. Onde o vento me levou...Agora volto ao roteiro: Toscana. Hospedada com uma pessoa maravilhosa, o Pietro. Que no primeiro dia já me levou a uma fazenda que processa frutas e verduras orgânicas.

Preciso confessar que nunca fui fã de damasco in natura. Adoro a fruta seca, mas sempre foi frustrante, comprar no supermercado, naquela bandeijinha de isopor com duas frutas e o preço de uma dúzia, aqueles pseudo pêssegos. Achava que tinha algo errado com as frutas que chegavam até mim.
Mas minha chegada na Toscana coincidiu com a época da colheita da albicocca, ou damasco pra nós. E cá estou eu, numa fazenda cheia de árvores de albicocca. Onde o trabalho varia entre: colher, picar, fazer marmelada, chutney, suco, sorvete, tudo de albicocca. Claro, é a safra.
Então resolvi voltar a fita, esquecer todas as minhas velhas impressões, limpar o paladar e a cabeça e experimentar da melhor maneira que pode haver uma fruta: no pé, sendo eu escolhida pela fruta e não o contrário.
Que posso dizer?
Deliciosa!...tem uma textura diferente, o que antes eu achava poroso ruim, agora percebi o quanto pode ser poroso bom! E é justamente por isso que fica tão boa seca. Não tem acidez nenhuma, um perfume suave e um pouco mais seca que um pêssego. Acho que o mais importante foi parar de fazer relação com o pêssego, agora vi como são diferentes (até as árvores). O sorvete só com a fruta, um pouco de água e mel, é delicioso, feito quase na hora, é o néctar dos deuses!
Fiquei tão animada que já no primeiro dia  criei um ritual: a primeira e a última da colheita são para eu comer. E comer com o máximo de presença que consigo em todo o sabor, textura, cheiro da fruta. Fico ali, parada no meio do pomar gigante, sentindo o sol na cara e este novo velho sabor na boca.
Cheguei bem.




domingo, 8 de julho de 2012

Verona vapt vupt

Casa de Julieta


Dá pra ver como o peito da Julieta tá gasto? É de tanto todo mundo que passa tirar uma casquinha...


Que amor!



sábado, 7 de julho de 2012

Berinjela Empanda

A pedidos está aí a berinjela empanada que o Simone fez para acompanhar o tagliatelle.




Talvez algumas pessoas já façam desta maneira, mas para mim foi tudo novidade:

Cortar as berinjelas em fatias, passar sal dos dois lados, colocar em um prato e por cima algo pesado (como outro prato com peso em cima). Deixar por uns 20 minutos.

Escorrer a água que se forma e secar com papel toalha as berinjelas. Uma por uma.

Passar farinha de trigo na berinjela (eu que fiz esta parte), com a mão mesmo, espalhando por toda a berinjela - confesso que achei que não ia grudar, pois sou acostumada a passar no ovo primeiro... mas funciona!

Depois é só fritar em óleo quente. Na hora de servir o tagliatelle, ele empilhou as berinjelas e picou em tirinhas da largura de um dedo e espalhou por cima!

Por úlitmo o Simone fez uma coisa que também não conhecia, mas pode ser comum para algumas pessoas: pegou uns pedacinhos de biscoito velho e jogou no óleo depois de tirar as berinjelas. Segundo ele o óleo queima o qualquer-coisa-que-se-jogue e não escurece (tipo não queima a si mesmo). Gostei.



Tagliatelle e História

Simone é um jornalista de Pádua. Poderia também ser guia de turismo, pelo tanto que conhece da história de Pádua e da Itália. Ou poderia ser chef de cozinha.

Fui sua ajudante na preparação deste tagliatelle (sempre a dúvida de traduzir ou não os nomes das pastas) e enquanto a massa surgia ia aprendendo mais da história da cidade.

Ingredientes da massa:

Para cada 100g de farinha de trigo grano duro, 1 ovo, uma pitada de sal e água com moderação para ajudar a dar forma à massa. Também existe a opção sem ovo...

Na mesa limpa misturar os ingredientes (um buraco no meio da farinha) até formar uma massa homogênea, que não gruda na mão. Depois disso descansar ou num pano úmido ou embrulhada no plástico.

20 minutos

Enquanto isso soube que Pádua  (Pádova) é uma das cidades mais antigas e foi no império romano uma das mais prósperas do Vêneto. Reza a lenda que foi fundada por um herói troiano, Antenor (há referência também na Eneida de Vigílio) e entre muitas invasões, guerras, pouco restou do período romano.

Massa descansada hora de abrir: partir em quatro, fazer uma nova bolinha com cada pedaço e depois começar a passar a massa pelo cilindro. Tudo na mesa limpa e polvilhada de farinha.


Começa-se com a distância maior entre os rolos e depois de cada passada diminui-se um pouco a largura.

É a hora mais gostosa e de paciência, porque precisa passar a massa muitas vezes, cada vez com o cilindro mais apertado e a massa sai mais fina.


Aqui a foto da caixa da máquina de abrir massa. Ela é facilmente encontrada aqui e custa entre 30 e 40  euros. E tem opções para tagliatere, talharim, espaguete, além da massa lisa para lasanha.

Enquanto abrimos a massa aprendi mais. E soube que entre os séculos XII e XVI Pádua viveu um grande período de prosperidade. Onde a arte, a religião e a ciência deixaram marcas na vida da cidade. A Universidade de Pádua é umas das primeiras da Europa e aqui lecionou nada menos que Galileu (adorei!). Parece que todo pensador que tinha problemas com a igreja na época da inquisição vinha para Pádua, um pouco protegida pelo poder econômico de Veneza, que possibilitava uma certa independência do poderio religioso. Ao mesmo tempo a beleza das igrejas, oratórios e batistérios, são impressionantes. Giotto que veio mais de uma vez à cidade contratado para decorar igrejas, deixou seguidores tão bons quanto o próprio artista toscano.

Olha a massa saindo prontinha depois de aberta bem fininha!


O molho (que não é molho, porque não tem caldo):

Abobrinha em rodelas, cenoura em rodelas bem fininhas, um pouquinho de cebola bem batidinha, azeite. Tudo isso no fogo, com panela tampada. Sal.

Depois de escorrido o macarrão, misturamos aos legumes. Na hora de servir um pecorino romano ralado por cima.


Servido junto uma berinjela empanada e picada. Mas esta receita eu deixo para amanhã.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Religare

Outros alimentos importantes neste momento da viagem:

- os amigos! estou super feliz de estar entre (novos) amigos, aqui em Pádua. A hospitalidade, alegria e carinho com que estou sendo recebida, me alimenta imensamente!

- as belezas religiosas de Pádua estão me emocionando. Aqui, por ser menor e menos visitado que Veneza é mais tranquilo (o silêncio externo ajuda no interno) para estar nas igrejas e museus.

Aí algumas delas:

Capela do Scrovegni: não tem como descrever. Uma capela toda coberta de afrescos de Giotto, contando a história de Maria e de Cristo. Fiquei entre arrepiada e com um nó na garganta...

Basílica de Santo Antonio: que era português e veio à Itália para conhecer São Francisco. Chegou tarde, mas seu espírito já estava imbuído da missão de servir e assim o fez toda vida. Morreu em Pádua. A basílica é belíssima, a missa também ;)

Igreja dos Eremitas: afrescos lindos de Mantegna, está sendo recuperada pois durante a 2a. guerra foi bombardeada e grande parte do acervo se perdeu...

Batistério do Domo: nas paredes laterais cenas do apocalipse de João Evangelista, no topo uma representação do paraíso em forma de mandala, emocionante!

No Palácio Episcopal há uma coleção de trabalhos artísticos religiosos maravilhosa. O quadro abaixo é de lá. Infelizmente percebi ao copiar a figura da internet, que não tem a metade da força e beleza de vista ao vivo... se chama Trinitá (dá pra ver a pomba no ombro de Deus?) e é de Nicoletto Semitecolo, 1367. Para mim foi das imagens mais lindas que eu vi...


Neste mesmo lugar (o Palácio dos Bispos) vi uns postais de ilustrações de uma série de exposições feitas com temas da natureza e religiosos super delicados e engraçadinhos. Queria ter todos, como quadro! Vai o site para quem quiser ver: icoloridelsacro.org

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Piatto del Giorno: Tramezzino

Estes lindos sanduíches abaixo são típicos de Pádua, onde estou agora. Comi um delicioso de ovo e aspargo. Feito com pão de forma branco, servido frio, é ótimo a qualquer hora do dia.


foto da internet

Receita básica: pão de forma, ovo, maionese, salada (alface e tomate). Mais recheios à sua escolha. Azeitona é ótimo. E o que mais tiver em casa. Cozinhar os ovos e misturar com a maionese (aqui a maionese é muito boa, não sei como fazer com as opções no Brasil, pois não entendo muito de maionese...), espalhar numa fatia de pão, depois a salada. Cortar transversalmente para dar todo o charme de um tramezzino. Pode cortar até em quatro para ficar menorzinho...

Aprendi mais sobre os tramezzini:

Pode ser quente também, cada fatia de pão é grelhada separadamente, para ficar com aqueles risquinhos tostadinhos, o recheio também é quente. Mas se você fizer tudo junto vai virar um misto quente, e é diferente.

Outros recheios:

Tomate e espinafre
Ovo com atum
Tomate com atum e maionese
Berinjela com queijo (neste caso a berinjela é tostada na chapa com sal e azeite)
Berinjela com porcheta (forma de se preparar a carne de porco tradicional na Itália, funciona com pernil ou uma carne assim)
Abobrinha
Repolho, ovo, tomate (o repolho passado na chapa, dá umas tostadinha, vi com repolho verde e com o roxo)
Repolho, presunto e tomate
Chicória e presunto cru...
E mais quantos recheios você puder inventar...


foto minha, do balcão. lá dentro o cozinheiro, aqui fora eu! e no meio os tramezzini de repolho, mussarela, presunto cozido e molho de funghi.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Veneza: a despedida e meu jardim secreto

Preciso repetir que Veneza é linda. Uma cidade super especial, diferente de tudo que conheço (que outra cidade tem vielas tão estreitas e avenidas de água?). Podia ter menos gente nas vielas estreitas...

Eu, bicho do mato, logo descobri (obrigada Alice, de novo), um bairro mais afastado e genial para o calor destes dias. É onde acontece a Bienal de Arte de Veneza. Então o dia acontecia assim: de manhã, ainda fresco, passeio pelas igrejas e museus (um parêntese para a Basílica de San Marco, a mais linda igreja que já vi por dentro, gostei tanto que assiti 2 missas no mesmo dia), depois Giardini ou Isola de S. Elena, para aguentar o calor do meio dia.

Acabei descobrindo o movimento do bairro, que no final da tarde recebia de volta os moradores, com as crianças voltando da escola, os trabalhadores da Veneza turística, e na avenida sombreada todos os velhinhos do local conversando e vendo a vida passar. É um bairro onde você vê as roupas no varal. Na hora do sol quente parece deserta (exceto pelas roupas no varal). As árvores abaixo foram meu refúgio nestes dias. Ficava horas lendo, picnicando, fazendo nada bem devagarinho. No final do dia eu voltava caminhando para a bela Veneza cultural!


Como é visto o Giardini chegando de vaporetto (embarcação típica de Veneza usada como meio de transporte público nos canais da cidade).


Roupas no varal.


E de despedida as famosas máscaras de carnaval de Veneza, orgulhosamente feitas em Veneza!




terça-feira, 3 de julho de 2012

Veneza: mercado de frutas e verduras

Cheguei ontem a Veneza e fiquei impressionada com a cidade, as construções, o mar! Na verdade nada do que eu falei até aqui sobre me perder nos lugares faz o menor sentido depois de andar por Veneza. Aqui realmente você se perde o tempo todo! Ainda bem que eu já vim com a informação (obrigada Alice!) que não era para me importar, porque no final dá certo.

Ao mesmo tempo que é linda, é lotada de gente e está um calor louco, que eu nunca vi igual no Brasil. Ontem nem as igrejas conseguiam me reenergizar do cansaço da cidade.

Então hoje resolvi fazer diferente e comecei o dia pelo mercado! Tem menos turista e mais gente da cidade. Tem que ir cedo, logo, mais fresco. Diversão garantida!

Abaixo as fotos e impressões do mercado de frutas e verduras de Veneza:


Visão geral das barracas (tem a parte de peixe também, não fotografada...)


Flor de abobrinha! Prometo voltar pro dahorta com pique total para cultivar a flor (descobri que tem que arrancar toda a planta, como se vê na foto, logo plantar o dobro!). E por aqui tem muitas receitas com a flor, até mesmo na pizza.



Veja você que a nossa alface americana aqui é brasiliana! Adorei!


Por último a flor de alcachofra, vendida na banca de flores. Linda assim.

domingo, 1 de julho de 2012

Torino Slow

De volta à Itália, aproveitei o domingo para visitar o Museu Egípcio (http://www.museoegizio.it/) , no centro de Torino. É umas das maiores (ou a maior não sei ao certo) coleção egípicia fora do Egito, imperdível para quem passar por aqui. Esta parte da cidade é ótima para caminhar, tem muitas construções antigas lindas, um monte de sorveterias e cafés maravilhosos e no meio de tudo encontrei isto:



esta é a frase preferida do manifesto slow food do meu pai!

Este lugar EATALY (http://eatalyny.com/) é o supermercado do slow food. Bom, talvez seja ofensivo dizer supermercado, mas tem uma variedade tão grande de produtos que não tenho outro nome para descrevê-lo. Além disso é um restaurante, tem um café, e livraria slow, tudo de bom! Tomei uma gasosa super diferente, de uma planta chamada Chinotto, típica da Liguria.



As frases espalhadas pelo local são perfeitas:



( se precisar de tradução, ai vai bem tabajara: 1 - "comer é um ato agrícola"; 2 - "a vida é muito breve para comer e beber mal"; 3 - "compra só aquilo que te serve, mas compra-o bom")

Desculpe as fotos mais ou menos, mas é o que consigo com minha-emprestada-da-minha-mãe sony cybershot.