sábado, 28 de julho de 2012

Enfim, wwoofer!

Estou começando minha experiência como wwoofer. Atravessei a Itália para chegar no Sarruni, uma fazenda orgânica em Salento, mais especificamente Capo di Leuca, como é conhecida toda a região de Puglia mais ao sul no salto da bota. É quase o prego do salto de tão sul que é. Numa zona belíssima, puro mediterrâneo, eles produzem azeite de oliva orgânico e tudo mais que uma fazenda pode dar, principalmente para o consumo da família e para receber os hóspedes que vêm no verão. É um agriturismo, uma hospedaria rural.

Só com esta viagem me dei conta da posição central da Itália unindo por mar o ocidente e o oriente. Toda gente já passou nessa região, árabes, gregos, espanhóis. As palavras do dialeto local têm influência de várias línguas, inclusive várias palavras iguais ao português, conclusão falo com a Nonna em dialeto! Andei por cidades pequenas que têm placas em grego, outras com construções com ares africanos, comi pratos de influência árabe, tem de tudo. Esta mistureba deu uma característica única ao povo desse lugar, alegre, exagerado, brincalhão. É a Itália que fala alto, quase aos berros, que dança, ri, briga e gesticula para tudo. Não que eu não tenha visto isso em outras partes, mas aqui parece que o sol forte deu um tempero especial e acentuado.

Tem oliveira para todo lado que você olha, a perder de vista. Mas poucas orgânicas, como estas da fazenda. É um mundo de conhecimento próprio, das variedades às formas de extração. Já aprendi que o melhor processo de extração do óleo é o tradicional, claro, como faziam os antigos produtores. Os processos mais modernos, industrializados, usam olivas colhidas do pé e do chão, alterando o sabor do óleo, mesmo que sempre prensado a frio. O ideal é a extração no frantóio tradicional (parecido com o nosso moinho de pedra...), que produz o azeite mais puro. E que centrifugar gera um óleo mais claro, mas homogeiniza pequenas partículas que alteram o sabor (oxida um pouco o óleo). Melhor é o óleo decantado, duas ou três vezes, calmamente, sem pressa, um pouco turvo, mas puro. Infelizmente não estarei aqui na época da colheita e feitura do azeite, curto a fruta pequenina no pé, ainda verde. Minha “casa” é um antigo trailler na sombra de uma oliveira.

A família é a típica italiana, a nonna que prepara a pasta diariamente, pai, mãe, filhos e nora. Não sei se é sorte de principiante mas sou muito bem acolhida e integrada à família. Eles dizem que são os brasileiros que são simpáticos...

Sou uma wwoofer curiosa, pergunto tudo com meu parco italiano. E como tem história essa região. A culinária é incrível, tenho a sensação que poderia passar o resto da minha vida aqui e nem assim conheceria todas as comidas tradicionais. A fazenda oferece aos hóspedes a típica cena salentina, um jantar com pratos locais do antepasto à sobremesa, passando pelo primeiro prato, segundo prato, contorno. É um desfile de comida. Toda noite, tudo maravilhoso.

Tão bom quanto comer é ajudar na cozinha, uma das funções wwoof na fazenda. Adoro. Gosto de ver como eles cozinham, gosto de cozinhar, fico feliz de ver o prazer das pessoas à mesa, saboreando aquele pedaço do paraíso que ajudei a preparar.

O ritmo do trabalho acompanha o sol. Começamos cedo, as 6 da manhã, com os animais: dando o trato, recolhendo os ovos, tirando o leite. Depois uma geral na cozinha e em outros serviços urgentes. Por volta de 10, 11 horas pausa para os wwoofers, que só voltam no fim da tarde, lá pelas 5, geralmente na cozinha, nos preparativos do jantar, preparando a mesa, ajudando a servir.

Traduzindo, tenho 6 a 7 horas livres no meio do dia... Tá certo que é quente pra caramba, mas o mar tá ali, azulzinho, me esperando, dá pra ver do terraço da casa...




Um comentário:

  1. Olá Teresa,
    Estou me deliciando com sua odisséia!
    Quando puder, e se puder, nos delicie com mais receitas, se possível dessa região!
    Paz e muita Luz, sempre...
    Lilian Janoni

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