quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Roberto, o cuocco

A primeira pessoa que conheci na fazenda foi o Roberto, o pai. Ele foi me buscar na cidade vizinha, Lido Marini, não chega nem a ser uma cidade direito, mas nessa época é lotada por causa da praia. À primeira impressão se imagina um homem muito sério, calado, rústico. Talvez porque lembrou o meu pai simpatizei de cara, gratuitamente. Depois ao vê-lo na cozinha onde comanda os famosos jantares da casa me encantei de vez.

Melhor que descrevê-lo é contar algumas situações que vivi com este italiano grandão, sempre com a barba por fazer, andando calma e pesadamente pela cozinha da fazenda.

  • Ele mede a porção de arroz na mão, cada punhado que cabe na sua mão grande, corresponde a uma pessoa. Fácil assim, sem copos intermediários.
  • Toda vez que fatio o pão ou o queijo ele me olha dizendo: não corta tão fino, assim não se sente o sabor de nada.
  • O Roberto é um verdadeiro defensor dos produtos orgânicos e naturais. Não cansa de repetir que o vinho (produção biológica de um amigo) não faz girar a cabeça ou acordar com um gosto estranho na boca, porque não tem solfito, a substância usada normalmente para ajudar a conservar.
  • Ele pode gastar toda uma tarde preparando aquele desfile de pratos para o jantar ou fazê-lo em 20 minutos, igualmente delicioso. Igualmente tranquilo.
  • Outro dia fez uma brusqueta com queiijo de ovelha e marmelada de tomate e me contou que tinha feito aquela marmelada um tempo atrás, imaginando justamente a combinação com o sabor forte do queijo de ovelha. Lindo, não?
  • Eu gosto de ver tudo limpo na cozinha e não paro enquanto não terminamos. Final de semana ele vem, me tira da cozinha e diz que a vida não é só trabalhar, que eu preciso aproveitar mais...e lá vou eu pra praia, sob ordens do cuoco (o cozinheiro).
  • O jantar dura umas três horas. Entre cada ida e vinda à cozinha ele pode conversar com qualquer um, sobre qualquer assunto. Da história da Itália ao crudivorismo. Das melhores praias para tomar banho a como escolher uma melancia. Tudo com muito bom humor, aquele humor irônico, discreto.
  • Uma pessoa ao meu lado diz que o leite cru é muito pesado, difícil de digerir. Vejo Roberto crescendo do outro lado da mesa, ele olha a moça e começa uma verdadeira aula sobre as vantagens do leite cru e fresco, dos malefícios do leite de caixinha, que segundo ele não é leite... um belo texto! Nessa hora pude ver meu pai falando...
  • Ele é a personificação do slow food salentino, na verdade de toda Itália. Conhece toda a tradição alimentar do país, como se prepara, onde é cultivado. Sua filha vai no mesmo caminho e juntos, pai e filha fazem da cozinha um verdadeiro laboratório de degustação e conhecimento.
    O Roberto é um homenzarrão, mas tem uma delicadeza no paladar impressionante. No segundo dia já sabia que eu gostava de conhecer os sabores locais. E me faz provar cada coisa que acha digno de nota. Neste exato momento escrevo deitada na rede depois de ter provado a ricota ainda morna que ele acabou de fazer, deliciosa. Ele me pergunta:
    - Parece um doce, não?


    Não deixe de assistir este vídeo lindíssimo do Roberto preparando o pão no Sarruni.

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