quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pão do coração


Hoje estou sentindo uma felicidade estranha. Sabe aquela alegria um pouco "super sensível" que você tá feliz mas tem uma certa vontade de chorar... Sinto isso geralmente quando vejo alguma coisa muito bela, que me emociona.

Tive dois momentos muito legais hoje, talvez seja isso.

O primeiro foi conhecer uma escola waldorf numa cidade aqui vizinha. Pode parecer pouco, mas me emociona profundamente a energia dessas escolas. As pessoas têm um semblante tranquilo, as crianças parecem mais felizes, o espaço lembra um lugar mágico, com seus quadros negros com desenhos lindos, sala de marcenaria e trabalhos manuais, tudo tão diferente, ao mesmo tempo me parece tão lógico para uma escola, para ensinar à crianças. Sei que esta é só a visão romântica de pessoas, crianças, espaços, mas posso guardar essa boa sensação no meu coração, não?

Depois fui conhecer uma fazenda biodinâmica chamada Camporbiano. Entre tantas coisas bacanas que eles fazem, desde à autosuficiência em energia elétrica, à produção de queijos, pão, massas, verduras, fiquei encantada mesmo foi com a farinha de trigo. Eles plantam o grão e depois fazem a farinha. São diversos tipos de grãos/cereais e depois três pontos de moagem, que fazem uma farinha mais grossa ou mais fina. O moinho de pedra todo feito em madeira por fora é incrível, pequeno, prático, eficiente.

Meus pensamentos começaram a voar até o Brasil, fiquei pensando como consumimos farinha de trigo e produtos feito com ela sem ter nenhum contato com o trigo. A maioria das pessoas, aposto, nunca nem viram um pé de trigo. Não sei se minhas informaçõe estão atualizadas mas me lembro que já li que a maior parte do trigo consumido no Brasil vem da vizinha Argentina. Um grão, que segundo Sonia Hirsch uma amiga/mestra, viaja em condições muitas vezes insalubres, sabe-se lá quando foi feito ou que variedade é. Me lembro de ter visitado uma vez uma fazenda "indústria" que entre outras coisas plantava trigo, um plantio a perder de vista, caminhava e um enxame de um inseto preto literalmente grudava em todo o corpo, uma coisa estranhíssima. O primeiro lugar que ouvi dizer que joaninha, aquele outro simpático inseto que povoa nossa cabeça com coisas alegres, era praga. Eles odiavam a coitada da joaninha, que andava em grupos grandes por lá...

Aqui as fazendas são menores,  é normal cada uma produzir um pouco de grão, mesmo que só para seu consumo. É costume na Itália conhecer os diversos tipos de grãos e cereais/primos (aqueles que fazem boas farinhas e podem ser usados juntos com o trigo), eles conhecem as variedades mais antigas que são mais digestíveis e muitos optam em plantar somente estes tipos de grãos.

O resultado se sente no pão. A cultura do trigo não deixou o pão industrial, como o nosso famoso pãozinho francês, pegar por aqui. Bem que tentaram, mas o povo é categórico quando se trata de alimentação, escolhem até o forno que preferem para ter o mais saboroso e saudável pão.

Volto às escolas waldorfs que num determinado ano fazem as crianças vivenciarem todo o processo da produção do pão. Começam construindo o forno, dia de muito barro, trabalho e bagunça, afinal são crianças. Depois chega o dia de fazê-lo. Me lembro que estava visitando a Rudolf Stenier em SP no dia que haviam feito o pão. Impossível esquecer a alegria daqueles meninos oferecendo o resultado do seu trabalho a nós visitantes. Pão do coração.

3 comentários:

  1. Ei teresa,

    Antes de comentar tenho que ti contar um sonho, na verdade MEU MAIOR sonho: quero um pedaço de terra pra ter minha casa, criar o Gabriel fazendo ele entender como ocorre o respeito entre nós, os animais, plantas, meio ambiente, enfim...Onde eu pudesse ser o mais autosuficiente possível.(P.S.: não acredito que isso seja utopia viu.)
    Aí leio esse seu post e pronto!!!O que é um sonho pra mim, vejo concretizado nessas fazendas que vc está visitando na Itália...
    Imagino essas escolas, esses campos de trigo, o moinho, os grãos, o cheiro e até o barulho do moinho...E continuo sonhando.
    Minha gratidão por regar meu sonho.
    Paz e muita Luz,sempre.
    Abração
    Lilian

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  2. Lilian, eu que te agradeço pelo carinho e acompanhamento na viagem...realmente é pra se sentir aqui, junto.

    Esta fazenda é a mais autosuficiente que já vi, eles só não produzem a gasolina e roupa que usam...lindo, imagino que deve ter sido um trabalhão (pareço tão longe disso), mas serve de exemplo e meta!

    beijo grande

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